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Capítulo 1
Encontrava-me no Starbucks à espera que o Patrick aparecesse. Mas onde é que ele se tinha metido? Já passava meia hora da hora marcada.
"Calma, Chel's. Quando ele vier terá uma óptima explicação para se ter atrasado." Namorávamos ia fazer três meses. Eu gosto dele, mesmo. Mas às vezes questiono-me se ele gosta tanto de mim como eu gosto dele. Sim, ele é buéda giro. Com cabelo castanho e olhos cor-de-avelã, é sem dúvida, irresistível.
Mas ele não vinha. Aos trinta e cinco minutos, fartei-me.
Peguei na minha mala, paguei a Coca-Cola Light que tinha pedido, para me ajudar a passar o tempo, e fui-me embora. Depois ele ligava e pediria desculpas, certamente.
Como é hábito, fui a pé para casa. Para quê incomodar o meu pai?
Fui em direcção ao centro da cidade passando por várias lojas e entrando naquelas que me interessavam.
Quando cortei para a zona dos bairros altos ouvi algo estranho.
Quem me dera nunca ter ouvido aquele som.
Quem me dera nunca ter sido curiosa ao ponto de tentar descobrir o que era.
Quem me dera nunca ter reconhecido as duas pessoas que lá se encontravam.
Quem me dera que eu não estivesse no sítio errado, na hora errada, com as pessoas erradas.
Eram vozes.
Se não tivesse reconhecido a voz dele, provavelmente teria continuado a minha vida julgando que ele me amava.
Era a voz do Patrick.
Deveria estar com os amigos, mas eu não fazia tenções de me demorar. Ia lá apenas para saber a causa do atraso dele, ou do esquecimento, do nosso encontro no café.
Quando contornei o muro, porque era daí que vinham as vozes, o meu mundo desabou.
Crash!
Qualquer coisa partiu dentro de mim, despedaçou-se, ficou aos bocados.
Será que a culpa era minha?
Como poderia ter sido tão estúpida? Tão parva? Como não tinha reparado em tal facto?
Agora, com as provas diante dos meus olhos, percebi que tudo até à data tinha sido uma mentira, uma ilusão.
Apeteceu-me dar-lhe um murro e deixá-lo inconsciente, sem se conseguir mexer. Partido aos bocados, como aquilo dentro de mim que tinha partido há escassos momentos. Apercebi-me que era o meu coração.
Mas já nem o meu corpo eu governava. Encontrava-me imóvel devido ao choque; completamente fora de controlo, após ter visto imagens desfocadas que para sempre me perseguiriam ao longo da vida.
Patrick estava com Angela, aos beijos e aos murmúrios.
Completamente absorvidos demoraram a perceber que eu estava ali.
Quando Angela me viu, afastou Patrick. Consegui ver a culpa nos olhos dela, o medo, o pânico, mas também vi uma faísca de felicidade.
"Cabra de melhor amiga!" pensei.
Ela estava a vir na minha direcção para me "explicar" o que se tinha passado.
Sim, sim. Eu vi. Por isso era melhor se ela ficasse calada.
Queria mexer-me. Queria correr. Queria fugir.
Entrei em pânico quando o meu corpo continuava imóvel.
Ela quase me tocou.
Quase.
Cerrei os dentes, fechei os punhos, arranhando a carne, e finalmente comecei a correr.
Não me lembro de correr tão rápido. De estar tão triste, tão desgastada. Mal via o caminho para casa com a quantidade de água que se instalava nos meus olhos. Pisquei-os com força, evitando chorar, evitando que eles me vissem a chorar, mas tal era inevitável.
Ao fundo da rua, num lugar distante, ele gritou:
--Chel's! Volta aqui! Eu quero-te explicar!
"Esqueceste-te do nosso encontro, mentiste-me, traíste-me, fizeste com que eu te amasse sabendo o que estava a acontecer. Podias ter-me dito! Raios! Tu sabes que podias ter-me dito. Mas em vez disso pensas-te: Porque não fazer a Chel's de parva? Ela já sofreu tanto, mais umas partidinhas não lhe farão mal. Depois de tudo, queres mesmo que eu olhe para ti?! Vai-te lixar!" pensei.
Corri com mais força. O chão estava desfocado, e ouvia a batida do meu próprio coração, ou o que restava dele.
Tropecei numa pedra, apercebendo-me que estava em frente a minha casa.
Olhei para trás. Felizmente não vinha ninguém.
Não podia entrar em casa naquele estado e iria odiar explicar ao meu pai o que se passara. Permiti-me descansar. Limpei as lágrimas à manga da camisa, funguei entre soluços, respirei profundamente algumas vezes e senti-me pronta para entrar.
Subi as escadas de entrada, peguei na chave de casa e abri a porta.
O meu pai estava sentado na poltrona grande a preparar as aulas para o dia seguinte (sim, ele é professor). Quando me ouviu entrar, mirou-me e sorriu-me. Limitei-me a olhar para o chão, como se não tivesse reparado.
-- O dia correu bem, querida? - Perguntou-me.
Mesmo não confiando na minha voz respondi:
-- Mais ou menos. Estou com uma dor de cabeça terrível. É melhor ir-me deitar.
Óptimo. Até não tinha corrido mal. Subi, sem nunca o encarar e entrei no meu quarto.
Naquele momento não podia pensar nele. Mas não poder não implica conseguir.
Comecei outra vez a chorar.
"Não! Como é que ele foi capaz de me fazer aquilo? Como?! Depois do que eu tinha passado, depois de ter sofrido como sofri, como?!
As lágrimas escorriam pela cara, era impossível pará-las.
Recordei tudo. Toda a nossa história e só me apeteceu ir ter com a minha Avó.
Ele sabia por aquilo que eu tinha passado. Ele conhecia o meu passado. Ele sabia que eu me sentia culpada. Ele sabia que sofria. E, ele sabia que tudo isto se devia à minha mãe.
À morte da minha mãe.
*****
"Preciso de umas calças de ganga novas. Uma camisa e um vestido também vinham a calhar." pensei.
Estava em frente ao meu armário, a decidir a roupa que iria levar para a festa da Angela, minha melhor amiga. O aniversário, era só na próxima semana, mas eu gosto de ter as coisas prontas com bastante antecedência.
A minha mãe entrou no me quarto.
--Mamã! – exclamei. - Podemos ir ás compras hoje? - perguntei fazendo beicinho e olhinhos.
--Hoje, meu amor? - Vi pela cara dela que não estava com paciência. - Hoje estamos sem carro querida e...
--Vamos de comboio. - Interrompi.
-- Mas para além disso a mamã tem trabalho para fazer. - Respondeu.
-- Ó mamã! Vá lá! Já pensas-te? Íamos e vínhamos de comboio, andávamos naquelas lojas lindas e gigantes no centro da cidade, comíamos um gelado no Starbucks, e, não és tu que precisa de um vestido novo para o casamento da tia Judith?
Ela olhou para mim com aqueles olhos lindos, obviamente a perguntar como é que eu sabia daquilo. Passados instantes vi nos olhos dela um brilho de desejo, como uma luzinha no final do túnel que a fosse salvar de horas e horas demoradas de trabalho.
--Sim, podemos meu amor. - Vi um sorriso surgir nos seus lábios.
Saímos de casa e dirigimo-nos à estação de comboio. Depois de comprar-mos os bilhetes de ida e volta esperámos que este chegasse para nos levar ao coração da cidade.
Nunca me diverti tanto com a minha mãe. Entrámos em lojas, vasculhá-mos vestidos para ela, comprámos uma camisola e umas calças de ganga para mim (que eu amo) e, no fim, fomos comer um gelado ao Starbucks como combinado.
Depois fomos dar mais umas voltas pelo centro, entrando no hiper-mercado para comprar fruta (precisávamos lá em casa) e fomos carregar o telemóvel da minha mãe ao banco. Acabámos por ir também ao parque e falámos um bocadinho enquanto o sol se escondia.
--Já queres ir para casa? - Perguntou.
--Penso que temos tudo o que precisamos, mamã. Por isso sim. E o papá também já deve estar com saudades nossas. - Argumentei.
A mamã sorriu. Eu gosto quando ela sorri. Fica ainda mais bonita. O sorriso dela favorece os seus olhos azuis e o cabelo castanho liso e comprido.
--Para além disso...- concluiu ela - Está a começar a escurecer. E daqui até à estação de comboio ainda demora uma meia hora. Sobretudo, com estes sacos de compra todos.
--Não te preocupes, mamã. - Reconfortei-a. - Nós não temos pressa.
Levantámo-nos e com toda a calma do mundo dirigimo-nos à estação. Pouco faltava para as nove da noite, mas o céu já estava bastante escuro quando chegámos e a temperatura tinha descido bastante.
Sentámo-nos num banco encostado à parede.
Faltavam cerca de quatro minutos para o metro chegar. Seriam os quatro minutos mais dolorosos da minha vida.
Enquanto a mamã retirava os bilhetes da carteira e colocava-os no bolso, eu olhei em volta para saber se se encontrava mais alguém na estação para além de nós as duas.
Tinha razão.
Dois homens grandes vinham, demoradamente, na nossa direcção. Não conseguia observar o rosto deles, ou as suas roupas porque a estação estava mal iluminada.
Olhei para o relógio digital que se encontrava à nossa frente.
Faltavam três minutos para o comboio chegar.
Os homens continuavam a aproximar-se. Tive um arrepio.
Por instinto, olhei para a mamã. O seu semblante parecia preocupado enquanto olhava em direcção para os dois homens grandes.
Parecia que os conhecia, como se estivesse a ter um dèja-vú.
Eu não estava habituada a ver a mamã assim, imóvel, como se uma lembrança muito má lhe estivesse a passar pelos olhos e ela não conseguisse fazer nada para pará-la.
--Mamã, está tudo bem? - Perguntei, assustada.
Ela nada disse. Olhei outra vez para os dois homens. Acabavam de passar por uma zona com luz e consegui distinguir-lhes as feições. Um deles, tinha o cabelo rapado, um piercing na sobrancelha e os olhos bastantes escuros. Era o mais alto. O outro, também bastante corpulento, tinha uma tatuagem em forma de escorpião no braço (estava de maga curta) e um brinco na orelha direita. O cabelo era loiro e os olhos verdes. Houve, desde logo, qualquer coisa que me chamou a atenção nos olhos dele. Em vez de me fazerem lembrar uma floresta tropical com água a escorrer numa cascata, onde tudo estava correcto e tranquilo, aqueles olhos recordaram-me um leopardo. Um leopardo grande e ágil, que por pura sorte tinha encontrado exactamente aquilo que procurava. A sua presa. Porém, não foram só os olhos dele que assustaram. Rapidamente reparei que ambos tinham um sorriso malvado no rosto.
Durante o tempo em que os observava, a mamã pegou na minha mão e levou-me, em passo acelerado, até a um candeeiro.
Estava qualquer coisa de errado ali. E o tempo transmitia isso mesmo. O dia que tinha sido coberto por enormes raios de sol, com um céu sem nuvens transformara-se na véspera de uma trovoada, com rajadas de vento forte.
Nunca gostei de trovoadas. Parece que mal o primeiro trovão rasgue o céu, algo de mau vai acontecer.
A passada dos homens estranhos acelerou o ritmo. Eles eram gigantes. Agora, apenas dez metros nos separavam.
Outro calafrio percorreu-me o corpo. Aquilo não estava certo. O meu coração batia fortemente, sendo possível eu ouvi-lo; as minhas mãos estavam frias e tremiam. Escondi-me atrás da mamã. Não gostava do aspecto daqueles homens. Não gostava nada, e por isso, percorria em vão, a estação de comboio, para saber se existia alguém que nos pudesse ajudar. Completamnete sozinhas.
Eu estava com medo. Muito medo.
As lágrimas começaram a vir-me aos olhos quando eles chegaram ao pé de nós.
Eu sabia que a mamã estava tão assustada como eu. Mas ela era forte. Por isso estendeu a mão, pegando na carteira e disse aos dois homens:
-- Fiquem com a carteira. Podem levar tudo, mas não nos façam mal.
Os rapazes maus e fortes sorriam.
"Jesus, ajuda-me, por favor" pensava. A catequista tinha-me dito que em situações complicadas Jesus ajudava sempre. "Jesus, ajuda-me" repeti, mentalmente.
"Jesus, ajuda-me, por favor" pensava. A catequista tinha-me dito que em situações complicadas Jesus ajudava sempre. "Jesus, ajuda-me" repeti, mentalmente.
O rapaz do piercing respondeu:
--Não queremos a sua carteira para nada, Senhora Annabelle.
A voz dele mostrava divertimento. Eles conheciam a minha mãe. Eles sabiam o nome da mamã. Se calhar também conheciam o papá. Ó meu Deus! Será que o papá está bem?
Eu não sabia o que eles iam fazer.
Eu não sabia o que eles iam fazer.
Faltavam dois minutos para o comboio chegar.
"Comboio despacha-te!" pensava agora, enquanto as lágrimas me escorriam pelas faces, e o medo dominava-me. "Mas porque é que eles não aceitam a carteira e o dinheiro e se vão embora?" perguntei para mim mesma. A resposta, saía da boca dos rapaz da tatuagem:
--Queremos a miúda. - ao dizer isso olhou para mim.
Chorei com mais força agarrando-me à minha mamã.
--Mamã...mamã!- disse entre soluços.
O medo da minha mãe transformara-se em cólera. Em fúria pura, adquirindo uma postura rígida.
Seguidamente, gritou:
--Eu preferia morrer ao vocês os dois levarem a minha filha.
Todos os movimentos aconteceram rápido de mais. Em segundos os homens entreolharam-se. Nisso, o da tatuagem tirou a arma escondida no bolso das calças.
Quando a bala saiu disparada da arma após terem pressionado o gatilho, o primeiro trovão da noite rasgou o céu. E foi ali, às 21:13, após ouvir a última respiração da minha mãe que o meu relógio parou.
*****
Enquanto as imagens daquela noite terrível me passavam à frente dos olhos, comecei outra vez a chorar. Nada daquilo era justo. NADA! Quer seja por ter perdido a minha mãe aos dez anos (e, ainda hoje me sentir culpada por isso. Porque, se não fosse eu a obrigá-la a ir às compras aquilo nunca lhe teria acontecido).
Não sei quanto tempo passou. Olhei para o relógio. 20h15min. "Tanto tempo! Meu Deus!". Dei um pulo da cama, ignorando as dores nas pernas após a corrida, e dirigi-me à casa de banho.
Fechei a porta, mas antes de lavar a cara olhei para a rapariga que se encontrava no espelho.
Os olhos eram o que destacava mais no seu rosto. Eram a junção de verde-claro com um azul forte. Eram sem dúvida bonitos. Mas naquele momento transmitiam dor estavam vermelhos porque a rapariga estivera a chorar e a sofrer. A sofrer interiormente. Chorou tanto que o rímel que tinha colocado antes de sair de casa estava borratado, fazendo uma linha preta contínua até ao meio das bochechas. O cabelo preto, ondulado, chegava até depois dos ombros, estava despenteado, dando-lhe um ar selvagem, porém desgastado e triste. Como se todo o espírito dela estivesse desiludido. "E estava". pensei. "Notava-se."
Saí da casa de banho após lavar a cara.
Estava desolada, e não havia forma de o negar. "Ainda não acredito que isto me aconteceu. Ainda penso que isto é um pesadelo. Ainda acho que isto é uma ilusão. Uma ilusão..."
Não podia gritar com som, ou o meu pai ia perceber que qualquer coisa não estava bem.
--Já que não posso gritar para fora, grito para dentro. - Murmurei.
"ODEO-TE! ACHAS BEM O QUE ME FIZES-TE?! ACHAS?! TUDO ISTO QUE PASSÁ-MOS, NÃO SIGNIFICOU NADA PARA TI, POIS NÃO?! FOI TUDO UMA MIRAGEM. UMA ILUSÃO! I-L-U-S-Ã-O!"
E lá voltavam as malditas lágrimas "Elas nunca hão de parar pois não?".
Apetecia-me fazer qualquer coisa de útil. Qualquer coisa para me distrair. "Mas o quê?" Não ia dançar porque estava cansada; não ia ler porque me doía o corpo todo. "Qualquer coisa que não exija muito esforço. Como...como...como escrever. Escrever, é isso!". A minha psicóloga (a que me acompanhou depois da morte da minha mãe, contou-me, uma vez, que a melhor forma de ultrapassarmos o que nos estava a "matar" emocionalmente, era escrever o que nos vinha na alma.
Arranquei uma folha do meu caderno diário de Inglês e peguei numa caneta. Não era preciso muito para saber o que queria escrever.
Após lágrimas, rabiscos e mais riscos o resultado final foi este.
Lembrei-me de outra coisa que gostaria de fazer. Liguei o meu portátil. Alguns minutos depois, o "minimeu" (como o chamo, carinhosamente) entrou no meu ambiente de trabalho. Como sempre, a página do MSN iniciou sessão automaticamente. Para minha salvação não estava ninguém onn-line. "Óptimo. Melhor assim." Porém algo me chamou a atenção. O meu sub. "Amo-te Patrick, melhor namorado do mundo (L)" dizia. Apaguei aquilo rapidamente, e nada escrevi.
Fechei a janela e terminei sessão. Abri a Internet e entrei no youtube. Segundos passados escrevi "impossible shontelle".
Quando a música começou, deitei-me na minha cama com o poema ao peito. Enquanto a música e a voz maravilhosa da Shontelle soavam em todo o quarto, as lágrimas vieram em maior quantidade, com mais força. Mais valia deitar tudo cá para fora, naquele momento. Deixar a dor já hoje de lado.
Pouco me importava se a minha almofada ficasse molhada, ou se estivesse num estado miserável. Quando a música tocou pela terceira vez já a sabia de cor e ia dizendo os versos enquanto estes se faziam sentir dentro do meu espírito. "A minha melhor amiga. Existirá alguma explicação para ela me fazer isto?! Existirá?! Porquê a mim? Porquê?! Ainda há escassas horas a minha vida estava óptima. Não magnífica, mas, de certa forma, boa. Tinha uma melhor amiga, dou-me bem com a minha turma, o meu pai ama-me e tinha uma namorado que era perfeito. Pois, que era."
Fechei a porta, mas antes de lavar a cara olhei para a rapariga que se encontrava no espelho.
Os olhos eram o que destacava mais no seu rosto. Eram a junção de verde-claro com um azul forte. Eram sem dúvida bonitos. Mas naquele momento transmitiam dor estavam vermelhos porque a rapariga estivera a chorar e a sofrer. A sofrer interiormente. Chorou tanto que o rímel que tinha colocado antes de sair de casa estava borratado, fazendo uma linha preta contínua até ao meio das bochechas. O cabelo preto, ondulado, chegava até depois dos ombros, estava despenteado, dando-lhe um ar selvagem, porém desgastado e triste. Como se todo o espírito dela estivesse desiludido. "E estava". pensei. "Notava-se."
Saí da casa de banho após lavar a cara.
Estava desolada, e não havia forma de o negar. "Ainda não acredito que isto me aconteceu. Ainda penso que isto é um pesadelo. Ainda acho que isto é uma ilusão. Uma ilusão..."
Não podia gritar com som, ou o meu pai ia perceber que qualquer coisa não estava bem.
--Já que não posso gritar para fora, grito para dentro. - Murmurei.
"ODEO-TE! ACHAS BEM O QUE ME FIZES-TE?! ACHAS?! TUDO ISTO QUE PASSÁ-MOS, NÃO SIGNIFICOU NADA PARA TI, POIS NÃO?! FOI TUDO UMA MIRAGEM. UMA ILUSÃO! I-L-U-S-Ã-O!"
E lá voltavam as malditas lágrimas "Elas nunca hão de parar pois não?".
Apetecia-me fazer qualquer coisa de útil. Qualquer coisa para me distrair. "Mas o quê?" Não ia dançar porque estava cansada; não ia ler porque me doía o corpo todo. "Qualquer coisa que não exija muito esforço. Como...como...como escrever. Escrever, é isso!". A minha psicóloga (a que me acompanhou depois da morte da minha mãe, contou-me, uma vez, que a melhor forma de ultrapassarmos o que nos estava a "matar" emocionalmente, era escrever o que nos vinha na alma.
Arranquei uma folha do meu caderno diário de Inglês e peguei numa caneta. Não era preciso muito para saber o que queria escrever.
Após lágrimas, rabiscos e mais riscos o resultado final foi este.
Ilusão
Tudo o que passámos
Tudo o que fizemos
Tudo o que fomos
Foi uma ilusão
Eu amei-te e tu traíste,
Eu quis-te e tu recusaste,
Eu abracei-te e tu fugiste,
Eu beijei-te e tu deixaste,
Eu acreditei e tu mentiste,
Eu telefonei-te e tu esqueceste,
Eu amei-te e tu traíste.
Porque tudo o que passámos,
Tudo o que fizemos,
Tudo o que fomos,
Não passou de uma simples e rápida ilusão.
Por: Chelsie White
Para: Patrick Blake
Lembrei-me de outra coisa que gostaria de fazer. Liguei o meu portátil. Alguns minutos depois, o "minimeu" (como o chamo, carinhosamente) entrou no meu ambiente de trabalho. Como sempre, a página do MSN iniciou sessão automaticamente. Para minha salvação não estava ninguém onn-line. "Óptimo. Melhor assim." Porém algo me chamou a atenção. O meu sub. "Amo-te Patrick, melhor namorado do mundo (L)" dizia. Apaguei aquilo rapidamente, e nada escrevi.
Fechei a janela e terminei sessão. Abri a Internet e entrei no youtube. Segundos passados escrevi "impossible shontelle".
Quando a música começou, deitei-me na minha cama com o poema ao peito. Enquanto a música e a voz maravilhosa da Shontelle soavam em todo o quarto, as lágrimas vieram em maior quantidade, com mais força. Mais valia deitar tudo cá para fora, naquele momento. Deixar a dor já hoje de lado.
Pouco me importava se a minha almofada ficasse molhada, ou se estivesse num estado miserável. Quando a música tocou pela terceira vez já a sabia de cor e ia dizendo os versos enquanto estes se faziam sentir dentro do meu espírito. "A minha melhor amiga. Existirá alguma explicação para ela me fazer isto?! Existirá?! Porquê a mim? Porquê?! Ainda há escassas horas a minha vida estava óptima. Não magnífica, mas, de certa forma, boa. Tinha uma melhor amiga, dou-me bem com a minha turma, o meu pai ama-me e tinha uma namorado que era perfeito. Pois, que era."
Tinha que parar de chorar. Tinha que seguir em frente. "Nada acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser..." Se eu não tivesse descoberto, ele ia-me enganar até acabar-mos e aí, iria ser mil vezes pior. E só a ideia de eu gostar de alguém me mentia, enjoava-me. Porém, não era por isso que deixava de doer. Mas foi assim que as lágrimas pararam.
Enquanto pensava, a música da Shontelle ainda tocava:
"And now, when all is done, there is nothing to say
You have gone and so effortlessly
You have won, you can go ahed tell them
Tell all i know now
Shout it from the roof tops
Write it on the sky line
All we had is gone now
Tell them i was happy
And my heart is broken
All my scars are open
Tell them what I hoped would be
Impossible, impossible
Impossible, impossible..."
"E agora está tudo feito, não há mais nada para dizer, e sem esforço ganhas-te, já podes ir dizer-lher...Diz-lhes que eu agora sei de tudo, grita-lo aos quatro ventos, escreve-lo na linha de céu,
tudo o que tínhamos foi agora embora. Diz-lhes que eu estava contente, que o meu coração está partido e que as minhas feridas estão abertas. Diz-lhes que o que eu esperava era impossível." Uma última lágrima caiu enquanto eu adormecia.
tudo o que tínhamos foi agora embora. Diz-lhes que eu estava contente, que o meu coração está partido e que as minhas feridas estão abertas. Diz-lhes que o que eu esperava era impossível." Uma última lágrima caiu enquanto eu adormecia.
Opáah , adorooooo mesmoo!!! :) continua assim
ResponderEliminarLINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO,...(LINDO)...,LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO, LINDO.
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