29/01/11

Vai correr tudo bem, vai correr tudo bem... pensava para mim mesma.
No entanto, sabia que não era verdade. Sabia que quando o visse podia ter um ataque de raiva e dar-lhe uma carga de porrada, sabia que podia ter um ataque de choro, de angústia, ou podia ter medo.
Mas estava certa de uma coisa: ia doer!
Não é daquelas dores reconfortantes, quando um cão nos dá uma mordiscadela porque tem que coçar os dentes, nem é daquelas dores quando partimos uma perna, ou temos uma dor de cabeça.
Não. É aquela dor que poucos conhecem, é a dor quando vemos a pessoas que amámos, mas que mais tarde nos despedaçou o coração, como uma faca que nos fura a pele seguida de um grito, de um suspiro e de uma inconsciência.
Eu caminhava silênciosamente pelas ruas do jardim municipal, sabendo que ele ia estar ali.
Sim, fui bastante burra em o fazer, mas queria que a dor acontecesse ali, porque não tinha ninguém a falar comigo, ou à minha espera, poderia ficar ali nos meus gritos mudos que ninguém ia dar conta. Ao menos, não iria ter uma data de amigas à minha volta a perguntar se eu estava bem. Pois porque nessa situação eu ou iria dizer ''Deixem estar, já passa'' com um sorriso tão forçado que até me iria doer os molares ou então ''Não foi nada.''.

Vi-o. A dor começou. Veio silênciosamente, sem dar sinais, mas mal a senti, o meu coração congelou, minha respiração ficou pesada,e minhas pernas sem força. Não sei quanto tempo passou, talvez horas, minutos, segundos, ela foi diminindo até parar. Recompus-me, com um ar agora mais confiante, voltei a olhá-lo.
Quando voltei a olhar, já não doeu, por mais estranho que para mim fosse, em vez disso, fiquei com raiva.
Muita raiva, raiva por ele me ter mentido, por todas as vezes que me tinha dito ''amo-te'' sem nunca me amar verdadeiramente, por me ter inclúido no jogo dele, por todas as vezes que me beijou, por todas as vezes que me olhava com um olhar ternurento, agora em vez da raiva era a fúria que me dominava, por eu ter sido burra ao ponto de acreditar nele, de lhe ter retríbuidos os ''amo-te'', por me ter permitido entrar no jogo dele, por todas as vezes que o beijei, por todas as vezes que me deixei levar por aquele olhar, por ter permitido que ele me traí-se.

A a minha alma e o meu espírito queriam vingança, para um dia poderem voltar a acreditar. E era isso o que eu tinha planeado.
Sabia o ponto fraco do Patrick: raparigas. Não é díficil de adivinhar pois não?
E hoje vinha vestida a rigor, mesmo para o fazer sofrer: na temperatura que estava (23º Celcius) conseguia aguentar com uma minissaia preta, collants tranparentes, sandálias de salto alto, unhas pintadas, um top (não muito justo), cabelo com ondulação, tinha tirado o aparelho ontem, oculos de sol brancos e uma carteira grande branca e preta.

Estava pronta, mesmo. Tinha falado com o meu primo para ele estar sentado no outro banco mais ao funco como se fosse meu namorado.
Isto ia doer muito ao Patrick, eu sabia que sim.

Inspira, expira. 1, 2, 3!
A Chelsie entra em acção.
Caminho pelo jardim, fingindo que não os vi. Deu para sentir os olhos dele postos em mim, com boca aberta, caminhava normalmente, e não pude evitar um sorriso. Como não sabia se ele me reconhecia, tirei os óculos de sol e BOMBA!
Ele parecia que tinha congelado, e eu olhava em frente.
Mal vi que ele ia abrir a boca para me chamar.

--Ben!- chamei o meu primo (namorado fingido) com um sorriso de orelha a orelha, pois apesar de ser apenas meu primo, eu tinha que saber fingir, e estava mesmo cheia de saudades dele.
Ele ultrapassava o Patrick em todos os aspectos: tinha 16 anos, era alto e com um bom corpo, olhos azuis-vivo, cabelo castanho, e com um sorriso lindo. Mas era meu primo.

Tinhamos combinado tudo, as palavras a utilizar, enfim...

--Olá boneca! 'Tava a ver que nunca mais vinhas.
--Desculpa, é que a Daisy teve um prma e eu tive que ir ajudar.
--É grave?
--Não te preocupes, depois passa.

Ele sorriu e deu-me a mão direita, tal como combinádo.

--Então podemos ir?
--Não.
--Porquê?
--Ainda não me deste um beijo.

Juro que podia ouvir o Patrick a cerrar os dentes! Era tãaao dificil conter a gargalhada.

--No carro é mais romântico.
--Deixa-te de coisas!- dei-lhe um toque no ombro. - Anda lá, se não chegamos atrasados.
Ele revirou os olhos. O Patrick como cobarde que é, foi-se embora, e passo apressado, a bufar e ainda com os dentes cerrados.

Quando ele estava demasiado longe para ouvir, soltei aquela gargalhada que estava aqui à tanto tempo presa.
Ele riu-se também.

--Oh priminha era aquele?- perguntou com um ar de gozo.
--Sim era.
--Podias ter arranjado algo melhor, és bem capaz disso.
--Pois só agora é que chegei a essa conclusão.
-- Ah, e a propósito estás mesmo bonita hoje.
--Mente meste que eu gosto.- e pisquei-lhe o olho.
--Vá anda.
--Para onde?- perguntei.
--Não me digas que não queres ir ver o ''Eclipse'' comigo?
-- A Tanny vai?
--Talvez.
--Fogo meu, queria mesmo conhecer a tua namorada.
--Vens comigo ver o filme ao cinema ou não?- perguntou de novo.
-- Deixa ver... É preferivel ir ao cinema com o meu priminho lindo ver o filme que quero ver à séculos, ou ficar em casa no pc? Já sei! Vou contigo.- e sorri.
--Acho bem.

Ainda me ria da cara do Patrick, mas não ia ficar por aqui.

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